domingo, 18 de janeiro de 2009

D. José Policarpo: Responsabilidade e bom senso



Alguns de nós, mais velhos, lembramo-nos ainda de um período da nossa história recente, os anos entre 1975 e 1989, o período pós-PREC. Nesses anos a posição política de cada cidadão era avaliada, em grande parte, pela postura em relação ao comunismo e ao PCP. Além das posições mais extremadas, havia uma postura de tolerância e de simpática compreensão, que vi muitas vezes a amigos católicos com grande preocupação social. Traduzia-se num discurso que soava assim: “as ideias comunistas são, no fundo, boas ideias, trazem uma grande preocupação para com os mais pobres, pretendem acabar com a pobreza e a miséria, procuram que os homens sejam mais iguais, como todos somos iguais perante Deus, só condenam o que é exploração dos homens, pretendem que as pessoas partilhem mais, etc., etc., etc.”. Ouvi este discurso até à saciedade e fiquei vacinado. Como ficaram vacinados muitos dos amigos que o proferiam. Como ficou vacinada a generalidade das pessoas.

Sobretudo depois da queda do muro de Berlim, ficou exposta a miséria política, económica e social em viviam os povos submetidos a regimes comunista. Hoje o que resta são regimes de tragédia como o de Cuba ou o da Coreia do Norte. Honestamente, ninguém poderá afirmar que deseja ou que não se importaria de ver os seus filhos a mudarem para Pyongyang. Ou para a Roménia de Ceausescu. Ou para a URSS de Brejniev. O discurso da compreensão e tolerância para com a ideologia comunista jaz enterrado debaixo dos cadáveres dos milhões de pessoas mortas nos Gulags soviéticos, nos pelotões de fuzilamento do Che ou de fome da Coreia.

Vem esta memória a propósito das declarações de D. José Policarpo, que tenho na conta de homem ponderado, tolerante e inteligente. Defendeu que o casamento entre mulheres católicas e homens muçulmanos pode ser uma fonte de sarilhos. Avisou as jovens que aceitar o estatuto que a mulher tem no mundo muçulmano não seria fácil para uma mulher de cultura católica.

Levantou-se um coro de críticas. O cardeal-patriarca foi acusado de fazer generalizações abusivas e de discriminar a comunidade muçulmana. Até a secção portuguesa da Amnistia Internacional exigiu uma retractação, sinal inequívoco de que a Amnistia Internacional necessita de uma nova secção em Portugal…

D. José Policarpo disse que as jovens católicas portuguesas teriam provavelmente grande dificuldade em adaptar-se ao estatuto que delas pode ser esperado por muçulmanos que sigam os preceitos que são Lei na Arábia Saudita ou no Irão. A opção, sendo lícita, tem forte probabilidade de resultar em grande sofrimento. É uma verdade óbvia. Com responsabilidade e bom senso, D. José Policarpo cumpre o seu dever de avisar as jovens por quem é responsável espiritual. Só temos que aplaudir este homem, que toma a sério o encargo de proteger aquelas por quem é responsável.

D. José Policarpo disse pouco. Talvez por grande respeito ao Islamismo, ou para não ferir susceptibilidades, não disse que, nos países de lei islâmica ou de esmagadora maioria muçulmana o estatuto da mulher é de uma inaceitável menoridade em relação ao homem. Ficam em casa e não podem sair sozinhas. São repetidamente violentadas, social, psicológica e fisicamente. A sua identidade é anulada pelas vestes obrigatórias, que, com variações regionais, lhes cobre o corpo, o cabelo, a face e até os olhos, como na famosa burka afegã. Não podem possuir corpo. Para que não tenham qualquer veleidade de possuir corpo, as comunidades africanas procedem à mutilação dos órgãos sexuais. Esta prática ancestral integrou-se perfeitamente nas comunidades islâmicas de África. Pratica-se usando um vidro partido, uma tesoura, uma lâmina, qualquer coisa, arrancando o clítoris, os lábios, cosendo a vagina. Destrói a mulher logo em criança. Quem viu uma mulher assim não esquece. Mas, como, há tempos, dizia um representante da comunidade Guineense aos microfones da TSF, temos de aceitar que faz parte de cultura desta comunidade.

Justamente, não temos de aceitar…

Vivemos numa sociedade em que homens e mulheres são iguais em oportunidades e na liberdade de fazer as suas escolhas. Esta liberdade não resulta da Lei. É a Lei que resulta da Liberdade enquanto princípio ético, moral e social. Não devemos, não podemos relativizar este princípio. Nem aceitar a ideia de que entre os cidadãos portugueses, os coreanos e as mulheres iranianas vão apenas diferenças “culturais”. A diferença está no âmago da dignidade humana.

Vi os partidos comunistas da Europa tornarem-se partidos democráticos. Contribuem para o bem público através da sua sensibilidade para os problemas sociais, mas com clara rejeição da ideia dos estados comunistas e da ditadura do proletariado. Espero ver chegar o tempo em que cada muçulmano saberá viver intensamente a sua religião sem tentar impor a chamada “Lei Islâmica” ao próximo e aos estados.

Até lá, quero viver com os meus concidadãos comunistas e muçulmanos. Mas não quero que os meus filhos vivam num país politicamente comunista ou islâmico…

Haja Saúde, D. José Policarpo (talvez com menos uns cigarritos…), e Obrigado por olhar pelos nossos filhos

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