quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Os deficientes que paguem a crise

No final do noticiário matinal na TSF: os deficientes que, durante o dia, frequentam centros de instituições privadas de solidariedade social irão passar a pagar uma mensalidade. Esta será calculada de acordo com a declaração de IRS do agregado familiar e poderá chegar a cerca de 150 euros.

Quem priva com famílias com filhos portadores de deficiências graves tem um vislumbre de algumas das vidas mais esfarrapadas que se pode imaginar. Esfarrapadas pela prisão permanente a um filho dependente que absorve toda a vida familiar. Esfarrapadas pela ausência de vida social. Esfarrapadas pela impossibilidade de desenvolver um projecto profissional. Esfarrapadas pelo sorvedouro de tempo e dinheiro a que os cuidados de saúde obrigam os deficientes e suas famílias. E esfarrapadas pelas maiores angústias dos pais: a de ver um filho a sofrer sem esperança de acesso à felicidade e a de saber que um dia a sua morte deixará no mundo um ser perdido e abandonado.

Os cidadãos deficientes são os mais frágeis e os mais necessitados de apoio público. Mais que as mulheres, as crianças, os velhos, os desempregados e os imigrantes. Mais frágeis do que tantos que têm recebido merecidos apoios. Mais que todos. Em Portugal, têm sido vergonhosamente abandonados pelo Estado. Todos e cada um de nós se deve envergonhar com a forma como estes cidadãos têm sido tratados. Num período em que todos os dias nos chegam notícias de milhões endossados ao sistema financeiro para cobrir fraudes e má gestão, esta notícia deve ser sentida como um insulto à Humanidade e um acto de cobardia: os deficientes não se manifestam nas ruas de Atenas…

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